sábado, 20 de setembro de 2014

As desculpas

Assistimos nestes dias a algo de inusitado e a que não estávamos habituados. Dois ministros – sim, dois – apresentaram desculpas públicas por erros ocorridos no seu pelouro. No caso, uma ministra e um ministro, a da Justiça e o da Educação, de seu nome respectivo, Paula (Teixeira da Cruz) e (Nuno) Crato, por essa ordem de apresentação das ditas desculpas. Ambos até estão bem indicados para as respectivas pastas, uma vez que são da área. Ela é advogada – com orgulho, segundo palavras da própria – enquanto ele é professor de matemática. Neste último a coisa até não deixa de ter a sua piada porque o pedido de desculpa resulta da confusão e consequente injustiça na colocação de professores, com alguns mais modernos a ultrapassar colegas mais antigos, tudo resultante de uma fórmula – pasme-se – matemática que, segundo alguns entendidos, está mal formulada ou mal aplicada. E isso apesar de garantir que o ano lectivo se iniciara com regularidade e que os erros – se houver, frisou ele – seriam corrigidos. Quanto à ministra, se a justiça já era alvo de muitas críticas por causa de uma lentidão que parece endémica, com a decisão de reformular o mapa judiciário e de espartilhar a justiça a uma plataforma informática – o Citius – ela ficou bloqueada, pelo menos parcialmente. E isso apesar de garantir que estava tudo a decorrer com toda a normalidade (mesmo com alguns tribunais a funcionarem em contentores ou, como se diz nesta terminologia política, em módulos habitacionais). Caso para dizer que a justiça ficou em estado de… Citius. Pelo menos num dos ministérios – no da educação – já se determinou um bode expiatório e uma cabeça já rolou – a do Director-geral da Administração Escolar. Como a justiça é mais lenta, não admira que o
Director-geral-de-qualquer-departamento-da-justiça leve algum tempo a apresentar a sua demissão. Só que em política, quando se assumem erros políticos (e de governação), tal como os ditos se pronunciaram – manda a ética e a vergonha que os que falharam assumam mesmo os erros, ou seja, apresentem a sua demissão. Mas como Portugal é um país de originalidades, no pasa nada.

Citius. Ministra da Justiça pede desculpa mas desmente caos
Paula Teixeira da Cruz garantiu que vai trabalhar para apurar responsabilidades e que dará explicações no Parlamento.
A ministra da Justiça pediu desculpa sobre os problemas na plataforma Citius, mas desmentiu uma situação de caos.
"Não tem havido caos, houve transtornos e problemas, com certeza. E esses estou aqui a assumir e peço, em nome do Ministério da Justiça, desculpa. Pelos transtornos e pelas dificuldades, não por um caos que não chegou a haver", disse Paula Teixeira da Cruz aos jornalistas.
A ministra admitiu, no entanto, a existência de muitos problemas. Disse mesmo que, se soubesse que teriam esta dimensão, não se importava de ter adiado por várias semanas a entrada em funcionamento da reforma.
Questionada sobre para quando o restabelecimento da normalidade da plataforma informática, a ministra não se comprometeu com qualquer data, afirmando, contudo, esperar que os problemas sejam resolvidos o mais breve possível.
Esclareceu, contudo, que sempre lhe foi dito que o sistema funcionaria na data prevista. Ao lado da ministra, estava o director do Instituto de Gestão Financeira, que interrompeu Paula Teixeira da Cruz para assumir ser ele o responsável pelas informações e garantias que foram sendo dadas.
A ministra prometeu ainda dar explicações no Parlamento e apurar reponsabilidades. "Uma questão quero aqui deixar muito clara: não deixarei de apurar a responsabilidade que ao caso couberem. Como sei que o Instituto de Gestão Financeira não deixará de querer ele próprio e, por si próprio, e pela qualidade a que nos habituou, de querer apurar responsabilidades. Até ao limite", acrescentou.
Sobre uma possível demissão, Paula Teixeira da Cruz esclareceu que "em tempos de dificuldades" só pensa em resolver os problemas, "não em ir embora".


Crato pede desculpa aos professores e aceita demissão de director-geral
Depois de mais de quatro dias de protestos, o ministro da Educação assumiu o erro e prometeu refazer os cálculos e corrigir a ordem de colocação dos professores. O director-geral da Administração Escolar demitiu-se.
O ministro da Educação e Ciência, Nuno Crato, assumiu na tarde desta quinta-feira que “houve uma incongruência”, “na harmonização da fórmula” com base na qual foram ordenados milhares de professores sem vínculo, que começaram a ser contratados pelas escolas na segunda-feira passada. “Peço desculpa aos pais, aos professores e ao país”, disse, na Assembleia da República, ao assumir o erro. Ao fim da tarde, soube-se que aceitou a demissão do director-geral da Administração Escolar, Mário Agostinho Pereira.
Em causa está a fórmula matemática utilizada pelo MEC para criar as várias listas de contratação, nas quais milhares de docentes estão ordenados por ordem decrescente. Nos restantes concursos a lista está ordenada com base na graduação profissional. Neste, designado por Bolsa de Contratação de Escola (BCE), a legislação determina que a classificação é feita com base na graduação profissional (com a ponderação de 50%) e na avaliação curricular.


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