Assistimos
nestes dias a algo de inusitado e a que não estávamos habituados. Dois
ministros – sim, dois – apresentaram desculpas públicas por erros ocorridos no
seu pelouro. No caso, uma ministra e um ministro, a da Justiça e o da Educação,
de seu nome respectivo, Paula (Teixeira da Cruz) e (Nuno) Crato, por essa ordem
de apresentação das ditas desculpas. Ambos até estão bem indicados para as
respectivas pastas, uma vez que são da área. Ela é advogada – com orgulho,
segundo palavras da própria – enquanto ele é professor de matemática. Neste
último a coisa até não deixa de ter a sua piada porque o pedido de desculpa
resulta da confusão e consequente injustiça na colocação de professores, com
alguns mais modernos a ultrapassar colegas mais antigos, tudo resultante de uma
fórmula – pasme-se – matemática que, segundo alguns entendidos, está mal
formulada ou mal aplicada. E isso apesar de garantir que o ano lectivo se
iniciara com regularidade e que os erros – se houver, frisou ele – seriam
corrigidos. Quanto à ministra, se a justiça já era alvo de muitas críticas por
causa de uma lentidão que parece endémica, com a decisão de reformular o mapa
judiciário e de espartilhar a justiça a uma plataforma informática – o Citius –
ela ficou bloqueada, pelo menos parcialmente. E isso apesar de garantir que
estava tudo a decorrer com toda a normalidade (mesmo com alguns tribunais a
funcionarem em contentores ou, como se diz nesta terminologia política, em
módulos habitacionais). Caso para dizer que a justiça ficou em estado de…
Citius. Pelo menos num dos ministérios – no da educação – já se determinou um
bode expiatório e uma cabeça já rolou – a do Director-geral da Administração
Escolar. Como a justiça é mais lenta, não admira que o
Director-geral-de-qualquer-departamento-da-justiça
leve algum tempo a apresentar a sua demissão. Só que em política, quando se
assumem erros políticos (e de governação), tal como os ditos se pronunciaram –
manda a ética e a vergonha que os que falharam assumam mesmo os erros, ou seja,
apresentem a sua demissão. Mas como Portugal é um país de originalidades, no
pasa nada.
Citius. Ministra da
Justiça pede desculpa mas desmente caos
Paula
Teixeira da Cruz garantiu que vai trabalhar para apurar
responsabilidades e que dará explicações no Parlamento.
A ministra
da Justiça pediu desculpa sobre os problemas na plataforma Citius, mas
desmentiu uma situação de caos.
"Não
tem havido caos, houve transtornos e problemas, com certeza. E esses estou aqui
a assumir e peço, em nome do Ministério da Justiça, desculpa. Pelos
transtornos e pelas dificuldades, não por um caos que não chegou a haver",
disse Paula Teixeira da Cruz aos jornalistas.
A
ministra admitiu, no entanto, a existência de muitos problemas. Disse
mesmo que, se soubesse que teriam esta dimensão, não se importava de ter adiado
por várias semanas a entrada em funcionamento da reforma.
Questionada
sobre para quando o restabelecimento da normalidade da plataforma informática,
a ministra não se comprometeu com qualquer data, afirmando, contudo, esperar
que os problemas sejam resolvidos o mais breve possível.
Esclareceu,
contudo, que sempre lhe foi dito que o sistema funcionaria na data prevista. Ao
lado da ministra, estava o director do Instituto de Gestão Financeira, que
interrompeu Paula Teixeira da Cruz para assumir ser ele o
responsável pelas informações e garantias que foram sendo dadas.
A ministra
prometeu ainda dar explicações no Parlamento e apurar
reponsabilidades. "Uma questão quero aqui deixar muito clara: não deixarei
de apurar a responsabilidade que ao caso couberem. Como sei que o Instituto de
Gestão Financeira não deixará de querer ele próprio e, por si próprio, e pela
qualidade a que nos habituou, de querer apurar responsabilidades. Até ao
limite", acrescentou.
Sobre uma
possível demissão, Paula Teixeira da Cruz esclareceu que "em tempos de
dificuldades" só pensa em resolver os problemas, "não em ir
embora".
Crato pede desculpa
aos professores e aceita demissão de director-geral
Depois
de mais de quatro dias de protestos, o ministro da Educação assumiu o erro e
prometeu refazer os cálculos e corrigir a ordem de colocação dos professores. O
director-geral da Administração Escolar demitiu-se.
O ministro
da Educação e Ciência, Nuno Crato, assumiu na tarde desta quinta-feira que
“houve uma incongruência”, “na harmonização da fórmula” com base na qual foram
ordenados milhares de professores sem vínculo, que começaram a ser contratados
pelas escolas na segunda-feira passada. “Peço desculpa aos pais, aos
professores e ao país”, disse, na Assembleia da República, ao assumir o erro.
Ao fim da tarde, soube-se que aceitou a demissão do director-geral da
Administração Escolar, Mário Agostinho Pereira.
Em causa está a fórmula
matemática utilizada pelo MEC para criar as várias listas de contratação, nas
quais milhares de docentes estão ordenados por ordem decrescente. Nos restantes
concursos a lista está ordenada com base na graduação profissional. Neste,
designado por Bolsa de Contratação de Escola (BCE), a legislação determina que
a classificação é feita com base na graduação profissional (com a ponderação de
50%) e na avaliação curricular.
Sem comentários:
Enviar um comentário