Hoje
é um dia especial para a Catalunha. O povo vai ser consultado para declarar se
está interessado em viver numa Catalunha independente. Todos sabemos que o
reino de Espanha é um conjunto de diversas nações, entre elas, a nação catalã. A
união de Castela e Catalunha é resultado do casamento de Fernando e Isabel, dando
início a um período de ouro da história do país vizinho que, após a conquista de
Granada conseguiu criar o que é conhecido hoje como Espanha. O sonho de uma Ibéria
unificada, sob um mesmo governo central esteve sempre presente em todos quanto
detiveram o mando, recriando o velho Império visigótico desfeito com a invasão das
tropas muçulmanas, comandadas por Tariq, no século VIII, mais concretamente em
711. Esse sonho também alimentou os desejos da coroa portuguesa, mas quem conseguiu
a sua concretização foi Filipe II de Espanha, o primeiro de Portugal. Em 1640 a
coroa espanhola teve de fazer frente a duas revoltas secessionistas em ambas as
costas dos seus domínios ibéricos – em Portugal e na Catalunha. O lado atlântico
recuperou a sua soberania, mas os Catalães foram dominados. Por esta breve e
incompleta resenha, se percebe que o sonho independentista catalão nunca
esmoreceu, mesmo em períodos de repressão da sua nacionalidade como ocorreu durante
o franquismo. Mas o advento da democracia burguesa após a morte do caudilho e a solução encontrada pelo governo central espanhol das autonomias abriram o
caminho para que o sonho recalcado ganhasse novo ânimo. E a pouco e pouco, com
o reforço continuado da autonomia, os Catalães admitem ter chegado a hora de se
pronunciar e de afirmar quererem seguir um caminho autónomo, livre da tutela de
Madrid. Claro que quem detém o mando não gosta de abrir mão de nenhuma parcela
dos seus domínios. Madrid não foge à regra e tudo fez para que a consulta não
se realizasse. Mas se defendemos a ideia de democracia, então, o povo tem o
direito (ou terei de dizer o dever?) de se fazer ouvir. Pelo que se ouve, não é difícil
adivinhar o resultado da consulta que irá em sentido oposto ao do referendo na
Escócia. Não sei (não sou futurólogo) como vai ser o day after nem discuto se a
consulta (ou uma opção pela independência e sua futura concretização) será benéfica
ou não para Espanha e para a Europa. O que sei é que um sonho acalentado de séculos
dificilmente morre e dificilmente, também, não se concretiza. Resta esperar que
os agentes e actores políticos tenham a percepção de que nenhuma posição
extremada produz bons frutos. Não deixa igualmente de ser curioso que a consulte
se realize no dia em que completam 25 anos da queda do muro de Berlim e que no
território catalão se encontrem como observadores, representantes de diversos
movimentos autonomistas de outros Estados europeus. Da minha parte, apenas me
apetece dizer: visca Catalunya.
Imagem retirada de: http://alejandroquintela.com//wp-content/uploads/2013/12/120308.espana.cataluna.espanya.catalunya.razones.mantener.unidas.independencia.jpg
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