domingo, 9 de novembro de 2014

A Consulta

Hoje é um dia especial para a Catalunha. O povo vai ser consultado para declarar se está interessado em viver numa Catalunha independente. Todos sabemos que o reino de Espanha é um conjunto de diversas nações, entre elas, a nação catalã. A união de Castela e Catalunha é resultado do casamento de Fernando e Isabel, dando início a um período de ouro da história do país vizinho que, após a conquista de Granada conseguiu criar o que é conhecido hoje como Espanha. O sonho de uma Ibéria unificada, sob um mesmo governo central esteve sempre presente em todos quanto detiveram o mando, recriando o velho Império visigótico desfeito com a invasão das tropas muçulmanas, comandadas por Tariq, no século VIII, mais concretamente em 711. Esse sonho também alimentou os desejos da coroa portuguesa, mas quem conseguiu a sua concretização foi Filipe II de Espanha, o primeiro de Portugal. Em 1640 a coroa espanhola teve de fazer frente a duas revoltas secessionistas em ambas as costas dos seus domínios ibéricos – em Portugal e na Catalunha. O lado atlântico recuperou a sua soberania, mas os Catalães foram dominados. Por esta breve e incompleta resenha, se percebe que o sonho independentista catalão nunca esmoreceu, mesmo em períodos de repressão da sua nacionalidade como ocorreu durante o franquismo. Mas o advento da democracia burguesa após a morte do caudilho e a solução encontrada pelo governo central espanhol das autonomias abriram o caminho para que o sonho recalcado ganhasse novo ânimo. E a pouco e pouco, com o reforço continuado da autonomia, os Catalães admitem ter chegado a hora de se pronunciar e de afirmar quererem seguir um caminho autónomo, livre da tutela de Madrid. Claro que quem detém o mando não gosta de abrir mão de nenhuma parcela dos seus domínios. Madrid não foge à regra e tudo fez para que a consulta não se realizasse. Mas se defendemos a ideia de democracia, então, o povo tem o direito (ou terei de dizer o dever?) de se fazer ouvir. Pelo que se ouve, não é difícil adivinhar o resultado da consulta que irá em sentido oposto ao do referendo na Escócia. Não sei (não sou futurólogo) como vai ser o day after nem discuto se a consulta (ou uma opção pela independência e sua futura concretização) será benéfica ou não para Espanha e para a Europa. O que sei é que um sonho acalentado de séculos dificilmente morre e dificilmente, também, não se concretiza. Resta esperar que os agentes e actores políticos tenham a percepção de que nenhuma posição extremada produz bons frutos. Não deixa igualmente de ser curioso que a consulte se realize no dia em que completam 25 anos da queda do muro de Berlim e que no território catalão se encontrem como observadores, representantes de diversos movimentos autonomistas de outros Estados europeus. Da minha parte, apenas me apetece dizer: visca Catalunya.



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